O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Reencontros — Familiares diversos


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Regresso inesperado

“Meu filho Antônio Carlos, nascido em Cruzeiro D’Oeste, Paraná, aos 24 de fevereiro de 1956, foi sempre calmo, observador e amoroso.

Muito ativo, com 4 a 5 anos de idade já gostava de folhear revistas, pedindo-me para ler os textos das gravuras. Atendendo esta precoce manifestação, que se acentuava dia a dia, alfabetizei-o em casa, antes de iniciar o Curso Primário.

Uma forte predileção pela leitura, e posteriormente pelos estudos em geral, foi uma constante em sua vida. Em 1972, inscreveu-se na International Fellowship e conseguiu um estágio de três meses nos Estados Unidos da América, com excelente aproveitamento. Após cursar o Colegial e um período de Cursinho, não teve dificuldade em ingressar numa Faculdade. Aprovado em duas delas, optou pela Engenharia de Barretos, SP.

Em 1975, concluindo o 2º Ano da Faculdade, dirigiu-se à nossa fazenda de Paranavaí, PR, onde passou as férias de fim-de-ano com seu pai. Regressaram a Campinas somente no final das férias, a 28 de fevereiro de 1976.

Na noite do mesmo dia da chegada, Antônio Carlos esteve com os irmãos e amigos no Tênis Clube. E, no dia seguinte, um domingo, fomos almoçar fora e voltamos todos para casa. Pouco depois, aconteceu…

Não sei explicar como pude enfrentar tanta dor… Antônio Carlos foi hospitalizado sem a menor esperança de recuperação, permanecendo em terapia intensiva até a manhã de 6 de março, quando faleceu.”


“Dois anos após o doloroso acontecimento, não tendo mais condições de suportar as saudades de meu filho, resolvi procurar o médium Chico Xavier, que eu conhecia somente em programas de televisão.

Dirigi-me, então, em companhia de uma amiga, à cidade de Uberaba, na expectativa de receber alguma notícia de Antônio Carlos.

No Grupo Espírita da Prece fui atendida pacientemente pelo médium, porém, muito emocionada, nada consegui dizer.

O mesmo ocorreu na segunda viagem, meses depois, quando novamente fiquei emudecida diante dele. Somente na terceira viagem consegui identificar-me, dizendo-lhe também o nome de meu querido filho desencarnado. Nesse encontro, Chico deu-me esperanças de que, numa próxima vez, o Espírito dele escreveria uma carta para mim.

De fato, daí a três meses, com imensa felicidade recebi a primeira mensagem de Antônio Carlos, psicografada pelo Chico, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 3 de agosto de 1979.

Como agradecer tão grande bênção?

Chico amigo, você que é tão humano e simples, que Deus lhe dê muita saúde e forças para a nossa alegria.

Foi grande o conforto e a coragem que recebi através de você. Só Deus poderá lhe pagar.

Obrigada, Chico.”


Este foi o depoimento, em síntese, de D. Djanira Martins Coutinho, residente em Campinas, SP, redigido em Janeiro de 1981, atendendo gentilmente nossa solicitação.

Seu filho Antônio Carlos, num gesto que, posteriormente em Espírito, ele mesmo chamaria de lamentável, pôs fim à própria vida física, promovendo seu regresso inesperado ao Mundo Maior. Porém, voltaria três anos depois, por via mediúnica, a dialogar com sua querida mãe, como veremos a seguir.


“COM FÉ ESTOU RECUPERANDO A EDIFICAÇÃO DE NOSSA PAZ”


PRIMEIRA CARTA

1 Querida mamãe Djanira, peço me abençoe.

2 Apesar do tempo transcorrido ainda me vejo um tanto abatido. n

3 A vovó Carolina n me trouxe para dizer-lhe que estou melhorando. Não creias que haja feito o que fiz por vontade própria. Uma força esquisita se impunha ao meu pensamento e, a falar a verdade, somente aqui, na Vida Espiritual tomei conhecimento do meu gesto infeliz.

4 Mãe, perdoe-me se a feri. Não me cabia fugir da tarefa quando o seu coração mais necessitava de assistência e compreensão.

5 Peço-lhe dizer ao papai n para que me desculpe. Tantas vezes sinto os pensamentos dele a me buscarem com grande aflição para saber… Saber o porquê da ocorrência. 6 Diga-lhe, mãezinha, que ninguém teve culpa; minha fraqueza se viu subjugada repentinamente por forças que visavam a nossa separação sem que me assista o direito de acusar a ninguém e tudo se esfacelou em torno de nós.

7 Sei que o papai espera alguma palavra, e se posso pronunciá-la, essa palavra é perdão — perdão para mim que necessito refazer minha própria segurança.

8 Tenho a esperança de ver o nosso lar novamente feliz. O meu irmão n e a nossa querida Sônia n são filhos dedicados e admiráveis e farão por mim a alegria que não consegui construir em favor dos queridos pais.

9 Nossa fé não desapareceu, não obstante as sombras que o meu gesto lamentável espalhou sobre nós, e com fé estou recuperando a edificação de nossa paz.

10 Mãezinha querida, perdoe-me se não posso escrever mais. O tempo está esgotado e faltam-me forças, embora a minha vontade de reconstrução do próprio caminho esteja forte e cada vez mais viva por dentro de mim.

11 Deus sustentará o seu coração querido nesta jornada em que seguimos sempre unidos, apesar da ideia de separação estar agora a nos obscurecer a visão da frente. Jesus, porém, nos guiará e venceremos.

12 Quando puder, envie minhas palavras de filho a Paranavaí e abrace os irmãos queridos, com a pérola que já nasceu na família para a nossa felicidade. n

13 Receba, querida mãezinha Djanira, o reconhecimento e o amor incessante de seu filho, ainda sofredor, mas sempre seu filho do coração,


Antônio Carlos Martins Coutinho


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Apesar do tempo transcorrido, ainda me vejo um tanto abatido. (…) seu filho, ainda sofredor — Numerosas informações do Mais Além — muitas delas, testemunhas pessoais — esclarecem-nos que a autodestruição (do corpo físico) acarreta graves traumas espirituais. E, para curá-los, o Espírito submete-se a prolongado tratamento, de anos e anos, muitas vezes necessitando de nova encarnação para restabelecer-se completamente. (Ver nota 9, do capítulo 4.)


2 — Vovó Carolina — Carolina Campos Martins, avó materna, falecida em 1969.


3 — Papai — Antônio Coutinho, atualmente residente em Paranavaí, PR.


4 — Meu irmão — João Carlos Martins Coutinho.


5 — Nossa querida Sônia — Sônia Carolina Coutinho Martins, irmã.


6 — Abrace a pérola que já nasceu na família — Aline Bianchi Coutinho, sobrinha.


SEGUNDA CARTA n


“É a minha própria consciência que me endereça os conflitos nos quais ainda me encontro”

1 Querida mãezinha Djanira, agradeço as suas bênçãos de sempre em meu auxílio.

2 As notícias minhas podem ser reduzidas nas palavras — estou seguindo bem.

3 Para o filho rebelde que fui, assumindo compromissos tão graves, os obstáculos que ainda atravesso são mínimos.

4 Sei que o papai não conseguiu aceitar-me as palavras. Console-nos, porém, a convicção de que assinalei a falta que ele nos faz.

5 O nosso querido João Carlos e a irmã querida suprem a minha presença, desvelando-se em auxiliá-la. E isso é motivo para muito encorajamento, em meu favor.

6 A vovó Carolina me tutela até hoje, qual se lhe fosse filho há muito tempo.

7 A dificuldade de adaptação para seu filho não tem sido pequena, ante a vida nova. Tudo porque não soube de minha parte esperar a ocasião exata a fim de retornar… Compreendo… 8 Por toda parte, recebo sorrisos e boas palavras; no entanto, reconheço a minha culpa por mim mesmo e, sem que ninguém me admoeste, é a minha própria consciência que me endereça os conflitos nos quais ainda me encontro. n

9 Sei que o seu carinho me recorda as datas de aniversário n e agradeço-lhe as preces e vibrações de paz e amor.

10 Mãezinha Djanira, a sua abnegação em nosso auxílio é um ensinamento constante para mim. Sofra com paciência e aguardemos dias melhores.

11 Desculpe-me se estou desarmado de recursos para lhe ser útil, mesmo porque ainda é em suas orações e lembranças que encontro o meu maior conforto.

12 Ao João Carlos, à irmã querida e à nossa querida Aline o meu especial carinho, e pedindo a Jesus por sua paz e felicidade, sou o filho que lhe deve a bênção da vida e a luz para o caminho com que me cabe seguir à frente.

13 Muitos beijos do seu filho saudoso e agradecido,


Antônio Carlos M. Coutinho


NOTAS


7 — Carta psicografada pelo médium Francisco C. Xavier, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, Uberaba, MG, a 23/2/1980.


8 — Sem que ninguém me admoeste, é a minha própria consciência que me endereça os conflitos nos quais ainda me encontro. — Esta experiência pessoal de Antônio Carlos é um exemplo vivo da explicação que os Espíritos deram a Kardec, ao responderem a pergunta: “— Onde está escrita a lei de Deus?” com a elucidativa resposta: “— Na consciência.” (O Livro dos Espíritos, Questão 621.)


9 — Sei que o seu carinho me recorda as datas de aniversário. — Esta carta foi escrita na véspera da data de seu aniversário: 24/2.


Hércio Arantes


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