O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Revista espírita — Ano XII — Março de 1869.

(Idioma francês)

Apóstolos do Espiritismo na Espanha.

Ciudad-Real,  †  fevereiro de 1869.


Ao Sr. Allan Kardec.


Caro Senhor,

Os espíritas que compõem o círculo da cidade de Andújar,  †  hoje disseminados pela vontade de Deus para a propagação da verdadeira Doutrina, vos saúdam fraternalmente.

Ínfimos pelo talento, grandes pela fé, propomo-nos sustentar a Doutrina Espírita, tanto pela imprensa, como pela palavra, tanto em público como em particular, porque é a mesma que Jesus pregou, quando veio à Terra para a redenção da Humanidade.

A Doutrina Espírita, chamada a combater o materialismo, a fazer prevalecer a divina palavra, a fim de que o espírito do Evangelho não seja mais truncado por ninguém, a preparar o caminho da igualdade e da fraternidade, necessita hoje, na Espanha, de apóstolos e de mártires. Se não podemos ser os primeiros, seremos os últimos: estamos prontos para o sacrifício.

Lutaremos sós ou em conjunto, com os que professam nossa Doutrina. Os tempos são chegados; não percamos, por indecisão ou por medo, a recompensa que está reservada aos que sofrem e são perseguidos pela justiça.

Nosso grupo era composto de seis pessoas, sob a direção espiritual do Espírito de Fénelon. Nosso médium era Francisco Perez Blanca, e os outros: Pablo Medina, Luís Gonzalez, Francisco Marti, José Gonzalez e Manuel Gonzalez.

Depois de haver espalhado a semente em Andújar,  †  estamos hoje em diversas cidades: Leão,  †  Sevilha,  †  Salamanca,  †  etc., onde cada um de nós trabalha na propagação da Doutrina, o que consideramos como nossa missão.

Seguindo os conselhos de Fénelon, vamos publicar um jornal espírita. Desejando ilustrá-lo com extratos tirados das obras que publicastes, pedimos que nos concedais a permissão. Além disso, ficaríamos muito contentes com a vossa benévola cooperação e, para tal fim, pomos à vossa disposição as colunas do nosso jornal.

Agradecendo-vos antecipadamente, rogamos saudar, em nosso nome, os nossos irmãos da Sociedade de Paris.

E vós, caro senhor, recebei o fraternal abraço de vossos irmãos. Por todos,


Manuel Gonzalez Soriano.


Em muitas ocasiões já dissemos que a Espanha contava numerosos adeptos, sinceros, devotados e esclarecidos. Aqui, não é mais devotamento, é abnegação; não uma abnegação irrefletida, mas calma, fria, como a do soldado que marcha para o combate, dizendo: Custe-me o que custar, cumprirei o meu dever. Não é essa coragem que flameja como um fogo de palha e se extingue ao primeiro alarme; que, antes de agir, calcula cuidadosamente o que pode perder ou ganhar: é o devotamento daquele que põe o interesse de todos acima do interesse pessoal.

Que teria sucedido às grandes ideias que fizeram avançar o mundo, se só tivessem encontrado defensores egoístas, devotados em palavras enquanto nada tivessem a temer e a perder, mas se dobrando ante um olhar de ameaça e o medo de comprometer algumas parcelas de seu bem-estar? As ciências, as artes, a indústria, o patriotismo, as religiões, as filosofias têm tido os seus apóstolos e os seus mártires. O Espiritismo também é uma grande ideia regeneradora; apenas surge; ainda não está completo, e já encontra corações devotados até a abnegação, até o sacrifício; devotamentos muitas vezes ignorados, não buscando a glória nem o brilho, mas que, por agir numa pequena esfera, nem por isso são menos meritórios, porque moralmente mais desinteressados.

Contudo, em todas as causas, os devotamentos em plena luz são necessários, porque eletrizam as massas. Não está longe o tempo, isto é certo, em que o Espiritismo terá também seus grandes defensores que, afrontando os sarcasmos, os preconceitos e a perseguição, empunharão sua bandeira com a firmeza que dá a consciência de fazer uma coisa útil; apoiá-lo-ão com a autoridade de seu nome e de seu talento, e seu exemplo arrastará a multidão dos tímidos que, por prudência, se tenham mantido afastados.

Nossos irmãos da Espanha abrem a marcha; cingem os rins e se preparam para a luta. Que recebam os nossos cumprimentos e os de seus irmãos em crença de todos os países, porque entre os espíritas não há distinção de nacionalidades Seus nomes serão inscritos com honra ao lado dos corajosos pioneiros, aos quais a posteridade deverá um tributo de reconhecimento, por terem sido os primeiros a pagar com suas pessoas e contribuído para o soerguimento do edifício.

Significa dizer que o devotamento consiste em tomar o bastão de viagem para ir pregar pelo mundo a toda a gente? Não, certamente; em qualquer lugar onde se esteja pode-se ser útil. O verdadeiro devotamento consiste em saber tirar o melhor partido de sua posição, pondo ao serviço da causa, o mais utilmente possível e com discernimento, as forças físicas e morais que a Providência distribuiu a cada um.

A dispersão desses senhores não se deveu à sua vontade. Reunidos, inicialmente, pela natureza de suas funções, estas os chamaram a vários pontos da Espanha. Longe de desanimarem por esse isolamento, compreenderam que, ficando unidos por pensamento e ação, poderiam fincar a bandeira em vários centros, e que assim sua separação redundaria em proveito da vulgarização da ideia.

Assim se deu num regimento francês, onde um certo número de oficiais tinha formado grupos, dos mais sérios e mais bem organizados que vimos. [Vide: Nova Sociedade Espírita de Bordeaux.] Animados de um zelo esclarecido e de um devotamento a toda prova, seu objetivo era, primeiramente, instruir-se afundo nos princípios da Doutrina e, depois, exercitar-se na palavra, impondo-se a obrigação de tratar, cada um por sua vez, uma questão, para se familiarizarem na controvérsia. Fora de seu círculo pregavam pela palavra e pelo exemplo, mas com prudência e moderação; não procurando fazer a propagação a qualquer preço, a tornavam mais proveitosa. Deslocado o regimento, se espalharam por várias cidades; assim o grupo se dispersou materialmente, mas, sempre unido em intenções, prossegue sua obra em pontos diferentes.


Abrir